sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Tarde demais Dr. Koff!!

Eu não vou me repetir, já me manifestei quando do caso Fernandão, mais de uma vez, e esperei em vão por uma ação da diretoria do Grêmio. Então, vou direto ao ponto: dr. Koff, as medidas anunciadas hoje são ridículas, por inócuas, pífias e tardias. A imagem da instituição já está irremediavelmente manchada. Só uma punição exemplar ao Grêmio, como a exclusão sumária da Copa do Brasil, mais o restante do Brasileiro com portões fechados, poderá propiciar um renascimento.

Sugiro que o Grêmio adote outro hino e apague todos os registros históricos da ligação e passagem pelo clube de nomes como Lupicínio Rodrigues, Everaldo, Tarciso, Valdo, Roger, Emerson, Anderson, Assis, Ronaldinho e muitos outros, que não merecem manchar suas biografias com a passagem pelo clube.

Não só os torcedores tem que ser responsabilizados, os que agiram e os milhares que se omitiram, aceitando sem protestar e agir, o crescimento das organizadas e seu relacionamento promíscuo com as sucessivas direções. Nomes como José Alberto Guerreiro e sua gestão temerária, Paulo Odone e sua transformação das organizadas em curral eleitoral, e Kroeff e Koff pela inércia e omissão em limpar o Grêmio dos marginais que tomaram de assalto o Conselho e as organizadas, também devem ser responsabilizados.

Infelizmente com a implosão do Olímpico o Grêmio implode, também, a própria história, a própria dignidade. Sobra a Arena como um monumento ao que o Grêmio tem de pior. 2014 marca a falência do Grêmio como instituição. Esperemos que possa renascer um dia.

                                                          Cordialmente 
                                                                                
                                                                            Francisco Canabarro  
                                                                                um ex-torcedor  gremista.


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Saudosismo. (Pedro A. de Andrade)


E eis que descubro que meu tio Pedrão, homem de poucas (mas sempre boas) palavras, jeitão tranquilo e sereno, pelo menos enquanto não fosse necessário agir, traz um poeta dentro de si. Aproveitando a preguiça e lançando mão de um orgulhosos nepotismo, cedo à ele o espaço. Aproveitem. Voltaremos amanhã ou a qualquer momento, em edição extraordinária.

Saudosismo.

Quero tornar a ver
Os campos da minha terra,
Sentir a brisa orvalhada
Das alvoradas na serra;
Ouvir o sussurro das sangas
Onde brincam lambaris,
Sentir nos pés as flexilhas
Do jeito que sempre fiz.


Contemplar o horizonte
Tremeluzindo à distância,
tostar pinhões entre grimpas
como fazia na infância
colher butiás, guabijus,
e o negro fruto da amora
prá saber se ‘inda tem
os mesmos sabores de outrora.


Permita Deus que encontre
Aquele rio Pinheirinho
Das águas claras, ligeiras,
Nos rumos de Carazinho,
entre capões e coxilhas,
Onde, vencendo distância,
pescava jundiás e traíras,
Mal saído da infância...

 
Quero do novo viajar
No velho trem Minuano,
E saltar em São Miguel,
Prá mim, templo profano
dos ancestrais uruguaios
que cultuava ano a ano:
Laudelino Aristemuño
E a doce Raquel Alba 

                            Pedro A. de Andrade

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O futebol explica o Brasil...

É o título de um bom livro, de interessante tema. Nele Marcos Guterman sustenta a tese de que o futebol é mais do que um mundo paralelo, mas "...uma construção histórica, gerado como parte indissociável dos desdobramentos da vida política e econômica do Brasil". E os fatos insistem em confirmar sua teoria. 

Exemplos:
1. Nenhuma surpresa nos números da pesquisa Ibope divulgada ontem. Eu mesmo afirmei, e escrevi aqui, há uma semana, pelo menos, que Marina estaria no segundo turno, restando saber quem a acompanharia. A pesquisa confirma e amplia, a colocando com boas chances de vitória no segundo turno. Aqui, parece que temos a presença da entidade muito conhecida, presente e comentada nos meios futebolísticos (ou seria futeboleiro?): o famoso Pensamento Mágico. O jogador que saiu do banco e ganhou o campeonato. O técnico que saiu da aposentadoria e deu jeito no time, etc., etc., etc.. As vezes funciona, nem sempre, mas o suficiente para manter o pensamento vivo.

2. O primeiro debate dos presidenciáveis também não trouxe nada de novo. As mesmas ideias, algumas com roupagem nova, a mesma postura de não tocar em temas polêmicos e evitar os que realmente precisam ser debatidos, promessas vagas e nenhuma objetividade. Dilma com sua tradicional incapacidade de se expressar com algum sentido, Aécio com seu tradicional modelo aristocrata mineiro e Marina com o indefectível jeitão esfinge, sabendo que no momento atual chega no segundo turno até por inércia. 
O quadro é o mesmo do atual futebol brasileiro. Não houve renovação. Os craques se aposentaram e não geraram sucessores. Apenas bons jogadores, alguns achando que jogam mais do que realmente jogam. Como a seleção brasileira da copa, medianos individualmente e um desastre coletivo.
E, uma experiência nova e, pelo menos, divertida, acompanhar o debate também pelas redes sociais, ampliou a relação com o futebol. Era como estar nas arquibancadas: os comentários e análises (de profissionais e amadores) tinham todo o distanciamento, a racionalidade e a objetividade de um torcedor comentando o jogo.

Como diz Paul Bloom, psicólogo canadense que palestrou ontem no Fronteiras do Pensamento: até a bondade vem da razão, não das emoções.

Talvez o momento mais interessante do debate tenha sido a fala de Marina se colocando como representante máximo da nova política. Saindo do PT, onde foi ministra nos dois governos Lula, tendo como vice Beto Albuquerque, vice-líder do governo Lula na Câmara, apoiada por Roberto Freire et all, e declarando que quer governar com Simon, Suplicy e Serra, parece consagrar a máxima criada por um dirigente de futebol: o mudar não mudando. É o modelo CBF, vamos renovar reciclando. As vezes funciona. Pelo menos, é ecologicamente correto.

É o futebol, mais uma vez, mostrando ser um, ou o mais, forte componente da identidade nacional. Caso eu fosse membro das hostes pessimistas, diria que, num segundo turno com Dilma e Marina, o voto nulo, branco ou a abstenção seria um dever cívico, patriótico. Como sou dos otimistas: calma! O navio ainda não está afundando, já que os ratos ainda não o estão abandonando, pelo contrário. 
E, depois, 2018 é logo ali. Tem Copa novamente!

Por vias das dúvidas:





terça-feira, 26 de agosto de 2014

Education, Engineering and Enforcement


A recente pesquisa do Coppe/UFRJ divulgada na última semana, trouxe dados assustadores. 500 mil mortos no trânsito na última década. Uma média de 50 mil vidas perdidas a cada ano. Como chegamos até aqui? Como diz o logo acima, de um Programa de Segurança Viária na Inglaterra, pensar pode ajudar.
Então vamos pensar juntos. Podemos começar fazendo um balanço de como andam, no Brasil, os três pilares da Segurança Viária, elencado no título deste post: Educação, Engenharia e Esforço Legal, alguns utilizam o termo Fiscalização. Em inglês, Enforcement pode significar aplicação, execução, cumprimento ou, em menor uso, coação e constrangimento. Ou seja, aplicar e fazer cumprir a lei.

Comecemos pela Engenharia.
Estradas bem projetadas, bem construídas, bem conservadas e com todos os equipamentos de segurança necessários são estradas seguras. Neste quesito ainda nos falta muita coisa, mas temos melhorado nos últimos anos. Mas, ainda estamos longe do ideal. Recente pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes estima que o Brasil precisa investir 290 bilhões de reais para ter uma malha viária de qualidade. Questões orçamentárias, de vontade política e uma falta de definição ou convicção de que modelo seguir, concessões, privatizações, etc, por parte não só dos governantes, mas da própria sociedade, atrasam consideravelmente um avanço nesta área.

Esforço Legal: no que se refere a possuir uma legislação de trânsito que contemple as necessidades da segurança viária, estamos bem. A legislação brasileira se enquadra nos padrões estabelecidos pela ONU e pela Organização Mundial da Saúde. A grande falha aqui está no cumprimento dessa legislação. Nossa fiscalização é insuficiente, muitas vezes falha e, no quesito punição, completamente inócua. É muito fácil se livrar de uma multa, mesmo após ter sido aplicada. E qual foi a última vez que você ficou sabendo que alguém que cometeu um crime de trânsito foi condenado e, efetivamente, parou na cadeia? 
Aqui o papel da sociedade também é dúbio. Ao mesmo tempo que pede legislação e punições duras, protesta e até pressiona contra radares, bafômetros, fiscalizações mais rígidas. A lei só vale para os outros, assim como diversas pesquisas sempre chegam ao resultado de que 90% dos motoristas entendem que dirigem bem e respeitam as leis de trânsito. O problema são os outros. E, como é uma área bastante sensível à política (voto), as autoridades hesitam e falham na fiscalização e na punição.

Educação: ficou por último por ser o mais complexo. Acredito que o correto seria educação e cultura, pois envolve aspectos de ambos. Educação envolve desde a capacidade de entender e interpretar a legislação de trânsito, o funcionamento do veículo e sua interação com o meio, a educação formal: a educação para o trânsito nas escolas, as campanhas de mídia e até valores, como o respeito ao outro. 

Como aspectos culturais, o modo como encaramos o automóvel, sua posse e seu uso, a maneira como vemos e compartilhamos o espaço público, entre outros. Não é raro encontrar pais e mães, maridos e esposas (mais aqueles do que estas) amorosos e zelosos por suas famílias, capazes de atos de desprendimento e heroísmo por seus entes queridos, que não hesitam em colocar a vida deles em risco pelo prazer de se sentir um Senna, um Piquet, um Schumacher nas estradas.

Aqui o buraco é grande. A educação para o trânsito nas escolas enfrenta um inimigo poderoso: o exemplo. O que adianta a criança aprender na escola, se ao sair encontra o pai (ou mãe) em fila dupla, discutindo sobre a vaga, e até chegar em casa, passa o sinal vermelho, não respeita os limites de velocidade, fecha os demais motoristas, zomba da fiscalização e se vangloria de ser "esperto" e bom de braço? E, como dizem, o exemplo é mais contagioso que o ebola.

A educação e a cultura, ou a falta de, influenciam até o esforço legal. O último exemplo é a recente operação da Polícia Rodoviária Federal de utilizar dois radares para coibir os motoristas que reduzem ao se aproximar de um radar e voltam a exceder o limite de velocidade assim que passam por ele. Prática tão perigosa, ou mais, do que o excesso de velocidade. 
Pois, não faltaram vozes a aumentar o volume, reclamando que era ilegal e injusto. Ora, o limite de velocidade vale para TODA a rodovia, salvo pontos expressamente sinalizados. Ou seja, você precisa  respeitar o limite em TODA a via e não só onde está o radar. Entendeu? Ou quer que desenhe? Ah! ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo crime! Quer dizer então, se eu matar alguém numa esquina e matar outro duas esquinas adiante e for preso, só posso ser julgado e condenado por uma das mortes?

Talvez devêssemos adotar o sistema Point to Point, usado em algumas estradas americanas, para fiscalizar veículos pesados. Uma câmera no início do trecho e uma câmera no final do trecho onde há mais acidentes. O computador calcula o tempo que você levou para percorrer a distância, a velocidade média e compara com o tempo que levaria para percorrer dentro do limite de velocidade. Se estiver acima deste, você é multado.

Enfim, para baixarmos aquele número lá de cima, precisamos de mais investimentos na infraestrutura viária, ações de educação e campanhas de mídia melhor formatadas, incluindo aspectos culturais (talvez mais pesquisas, e mais aprofundadas, sobre o comportamento dos motoristas, e fiscalizações e punições mais frequentes, eficazes e duras. E, muito importante: que você não desligue o cérebro ao ligar o carro.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

FEMEAPÁ

E parece que o PSDB desistiu da corrida.
A coluna de hoje de Eliane Catanhêde, na Folha e no Uol, parece indicar isso.
Ou o status quo já se prepara para entregar os anéis para não perder os dedos.
O velho discurso do pacto de governabilidade, tenho a impressão, também contribuiu para nos trazer até aqui.
A sugestão do PSDB ser o PMDB de Marina e do PSB, cheira à desespero.
O PSDB tem que criar coragem e ser oposição. O que não conseguiu ser até agora, por incompetência, por ter semelhanças com o PT, ou por vergonha de parecer liberal demais.
Tem obrigação de construir uma alternativa republicana, apesar da fixação das elites e da classe média pelo período Brasil Colônia/Império.
Sonhar com o PSDB sendo o Conselho de Ministros de Marina é medíocre.
Veja  bem, não é que o PSDB não possa ou não deva apoiar Marina em um eventual segundo turno. Na visão geral do menos ruim, tá valendo. O que não pode é se tornar o PMDB do novo governo, na esperança de controlá-lo ou domesticá-lo. O tiro pode sair pela culatra.

Se vivo fosse, Sérgio Porto, o imortal Stanislaw Ponte Preta, estaria lançando o FEMEAPÁ - Festival de Mediocridade que Assola o País.


domingo, 24 de agosto de 2014

Carta ao Pedro



Hoje é uma data importante no calendário. Não só pela morte de Getúlio ou por marcar a decolagem de Amelia Earhart para o primeiro voo solo, costa a costa nonstop, de uma mulher. Embora tenha mais a ver com o segundo fato.
24 de agosto é o aniversário do Comandante. Calma, não é quem você esta pensando. É o Comandante Pedro, meu irmão. Piloto dos bons, o mano anda meio desiludido com o país, tanto que anda voando lá pelas bandas do Panamá. Ao contrário de Marina Silva, anda pensando em desistir do Brasil.
Este bilhete é para tentar insuflar-lhe um pouco de ânimo e de esperança. 
Ize, seu apelido de família, uma contração do nome Pedro Luiz, que virou Ize. Não me perguntem como ou porque, pois não tenho a menor ideia. Pois, Ize, não desista ainda. Eu sei que é duro, este país corroeu nossos sonhos até os ossos. Mas, ainda há tempo de mudar. Só que este mudança só vai acontecer se vier de baixo para cima. Com muita luta e muita pressão. Não podemos perder nenhum soldado.
Não por nós, nossos sonhos dificilmente serão recuperados, embora possamos criar novos, mas, por Sophia e Bibi, por exemplo. Elas ainda tem o tempo e o direito de ter sonhos. Nós a obrigação de criar condições para que possam realizá-los.
Não te entrega Comandante! Este voo ainda não acabou.

Beijos, com amor

Chico

O verdadeiro crime da ditadura...

A semana foi agitada pelas revelações de Míriam Leitão sobre ter sido torturada durante a ditadura. O fato teve as repercussões de praxe e as grosserias e truculências de praxe. Não há o que discutir sobre a violência e humilhação a que a jornalista foi submetida, nem buscar desculpas ou atenuantes. Nem me proponho a isto. 
A minha discussão aqui é sobre um aspecto pouco ou nada discutido sobre o período, talvez por que seja  mais um sensação minha do que uma tese. Talvez o grande crime cometido pela ditadura, e aí não só contra a esquerda, os comunistas ou terroristas seja lá como você os queira chamar, mas contra o próprio país, tenha sido a morte da direita.
O processo negociado da transição da ditadura para a democracia, resultou em dois movimentos migratórios distintos: o dos que escolheram uma aposentadoria silenciosa e o dos que escolheram uma caminhada gradual (algumas nem tão gradual assim) para o centro. Alguns caminharam tão rápido que foram parar na esquerda. Do PP ao PSDB, todo mundo quer ser de centro, centro-esquerda ou esquerda mesmo.
Sendo justo, não é culpa exclusiva da ditadura, é um componente histórico e cultural. Os governos militares contribuíram, um pouco mais, para dar uma cara única à direita. Uma muito feia, tanto que quem se declara como de direita é logo visto como um bicho-papão, um completo fascista. Vamos combinar, alguns fazem por onde.
Quando falo direita aqui, estou me referindo a definição mais clássica, do liberalismo ou dos republicanos no sistema Norte-americano. Pois, esta direita ficou sem voz, com raríssimas exceções, no Brasil. Digamos que, hoje, o Campos que faz e fará mais falta ao país, é o Roberto e não o Eduardo.
Os liberais se tornaram espécie em extinção, principalmente aqueles dotados de um acessório indispensável, chamado cérebro. 
Da economia à mídia, onde Paulo Francis faz muita falta, não houve renovação ou a criação de novos talentos. Os que surgiram são do mesmo nível que a atual geração futeboleira, acham que são craques, quando não passam de bons jogadores, alguns apenas medianos. Como a Seleção Brasileira, basta encontrar um time medianamente organizado pela frente, não precisa nem ser uma Alemanha, para ser goleado.
Esta falta da direita faz com que o Brasil avance a passos de cágado e aos trambolhões. Um país precisa de ciclos de esquerda e direita para que possa atender as demandas de toda a sociedade. PT e PSDB chegaram a criam forças modernizadoras, cada um a seu modo, mas também aqui a falta de uma direita organizada, e com programas claros e definidos fez falta. Não tendo um contraponto, tornaram-se polos opostos e, na disputa pelo poder, tiveram que aliar-se, cada um ao seu tempo, com as forças arcaicas do sistema político brasileiro.
Então, o que o pais precisa é de uma direita com um programa adequado à realidade nacional. E não  uma imitação dos Estados Unidos, o que não temos como ser, já que lá a nação criou o Estado e por aqui o Estado criou a nação, ou uma cópia pura e simples de Singapura, o que também não podemos ser. É preciso perder a vergonha de assumir o liberalismo, como dizia Roberto Campos: "assumir o liberalismo em um país com cultura dirigista é tão alienígena quanto fazer sexo em público". Pois fiquemos pelados na praça!
Como eu escrevi aqui, no post de 17/8, antes de virar carne de pescoço no mercado da opinião. Quem tem se beneficiado disto é o arcaísmo do PMDB e seus genéricos. Mais uma vez, ganhe quem ganhar, serão governo. É a miserável sina do Brasil: flerta com o moderno e vai para a cama com o arcaico.


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Manifesto pela natureza...

Hoje é sexta-feira, e o final de semana está tocando a campainha, chamando para a folga. Então, resolvi dar um refresco ao caro leitor, querida leitora. Quem sabe sair um pouco dos temas habituais, desta tentativa de elucidar os mistérios do sistema político brasileiro, e falar de amenidades.

Pois, estes dias, navegando pela internet, para acompanhar as notícias da hora, me deparo com a crucial e indispensável informação de que as candidatas ao Miss Bumbum 2014 desfilaram pela Avenida Paulista, em biquínis. Acompanhada por um álbum de fotos, evidentemente. Até aí, tudo bem. Esse tipo de "evento"  e ação midiática já faz parte do cotidiano nacional.

O que me chamou a atenção foi que a fixação nacional por este atributo da anatomia humana parece ter atingido o mais alto (ou mais baixo) nível. Mesmo uma visualização rápida das fotos das alegres moçoilas, algumas nem tão moçoilas assim, mostra que volume e tamanho prevalecem sobre a forma.
Naturalmente ou com algum auxílio artificial, os derrières se transformaram em entes autônomos, cientificamente falando, uma relação harmônica interespecífica, ainda não definida se mutualismo protocooperação ou inquilinismo. (Procura no dicionário, filho. Faz um pouco de exercício!).

Onde terão ido parar as bundas "normais"? Por favor, sem preconceitos: normal aqui não leva nenhum juízo de valor: bonitas ou feias, caídas ou arrebitadas, firmes ou gelatinosas, não importa. Normal é aquela que se olha e se verifica que pertence ao corpo que habita. Faz parte do conjunto. Bunda e corpo se conhecem e estão juntos desde o útero.

Por isso o manifesto pela natureza. Tragam de volta as bundas naturais!

Pensando bem, não fugi tanto assim do tema tradicional do blog. Essa fixação, obsessão, do brasileiro por traseiros, talvez explique por que temos tantos bundas na política e outras áreas. Bundas nos governam, bundas nos representam, bundas nos informam, bundas nos divertem cantando, atuando, e até contando piadas.

Bunda, bunda, vasta bunda, se eu me chamasse Raimunda..... (perdão Dom Carlos).

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Devolvam a relevância ao meu voto...

Até agora, neste blogue, tenho exercido meu senso crítico, tecendo opiniões e comentários sobre os candidatos à presidência. Muitos devem estar se perguntando: afinal em quem votará este cidadão?

Pois, o cidadão em questão vem por meio desta declarar, formal e solenemente, que NÃO votará!

Antes que os queixos caiam, as bocas se abram, o horror se instale em seus olhos e as lições de moral e o patrulhamento ideológico se iniciem, explico as razões.

Não tenho nada contra o voto branco ou nulo. Está na regra, logo é um direito democrático do eleitor usá-lo. Se não colaboram com o processo, então que deixem de existir. Substituam pela NÃO obrigatoriedade de votar. Abomino as tentativas, da mídia, dos partidos, militantes e etcs, que tentam tutelar o MEU voto. Ah! Votar branco, nulo ou não votar diminui o coeficiente eleitoral e favorece os maus candidatos! Quem disse? Não sou eu que devo avaliar se o candidato é bom, se atende ou não minhas expectativas, se comunga com as minhas ideias sobre como deveria ser o país, o estado, a cidade? 

Quem disse que eu devo me contentar com "o menos ruim"? Eu quero o melhor! Se nenhum deles atende os requisitos, por que tenho que dar o meu aval? Por quê VOCÊ tem medo que o seu candidato ou o seu partido não se eleja? Então pressione seu candidato, seu partido, para que atinja os padrões mínimos de qualidade. Melhore seu candidato, seu partido, as ideias e projetos deles e talvez eu vote neles! Mas continuará sendo uma escolha minha!

Parece, então, que há um consenso de que o sistema atual favorece os candidatos com maior poder econômico, que já possuem um mandato e dominam a estrutura partidária? Então porque não mudar o sistema? Votar branco, nulo ou não votar irá reduzir o coeficiente eleitoral? Quem sabe assim os candidatos que não conseguem quebrar as barreiras do partido, do poder econômico, sem visibilidade na mídia, mas com boas ideias, tenham uma chance.

A questão é usar isso como uma manifestação de princípios, uma tomada de posição e uma estratégia política, e não simplesmente uma atitude adolescente de protesto.  Mostrar a insatisfação com o sistema e os políticos atuais, afirmando que eles não possuem representatividade. E continuar lutando para que algo seja feito. Pressionando o Congresso, mostrando sua insatisfação. Não é preciso sair por aí quebrando tudo. É preciso cobrar que o assunto seja discutido. Mostrar sua insatisfação. Marcar posição.

A minha será esta. Não comparecer na minha seção eleitoral, assumindo todas as consequências do meu ato. Ainda não decidi se vou sentar em frente a minha casa, com meu cartaz de Reforma Política, já!, ou se vai ser numa esquina próxima ao meu local de votação, dentro da distância regulamentar, evidentemente. O objetivo é um só: que o meu voto volte a valer alguma coisa, volte a ter relevância e realmente manifeste a minha ideia de país, estado ou cidade.

Acredito que é hora de sair do choro nas redes sociais e partir para uma ação mais prática.

Quanto a reforma política, dois pontos fundamentais: o fim da obrigatoriedade do voto e o fim da obrigatoriedade do candidato estar alistado em partido político. Podemos discutir em que níveis será permitido a candidatura independente, se para todos os cargos, só os majoritários, só para presidente, etc.

Todos os demais pontos podem, e devem, ser debatidos e negociados.

Quer participar? Nem precisa ir lá, sentar comigo e meu cartaz. Basta assinar aqui:





quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Oi Aécio. Sou o Francisco, vamos conversar?

Caro Aécio

Contrariando titio Fernando Henrique, acredito que tua única saída seja confrontar Marina. E Dilma. Com a devida vênia de sua majestade FFHH (licença, Elio Gaspari), penso que deves ser menos vice-rei das Geraes e mais boêmio da Lapa.

A estratégia agora é uma só: mostrar que com Dilma e Marina no segundo turno não é preciso nova votação. Cara ou coroa resolve (sem duplo sentido). É a única chance, mostrar que são dois lados da mesma moeda. Só que para isso terás que sair de cima do muro. É hora de mostrar coragem e assumir uma posição no mínimo de centro-centro, se achares que centro-direita é pesado demais.

É hora de testar o eleitor, que vive reclamando dos "comunistas" nas redes sociais, que este país precisa de uma conversão à direita, mas só tira o traseiro gordo da cadeira para votar no Dom Sebastião da hora, recém retornado de Alcácer-Quibir. Pois seja este Dom Sebastião (vice-rei já é uma escala).

Não é fácil, eu sei. Mas, não está fácil para ninguém, meu filho. Então, tira a calça curta, sai do playground e vai à luta, guri!

Ou vais ficar chorando, encostado no muro, enquanto as meninas brincam.

Abraço. Chegando no segundo turno, mando a conta da assessoria.

Dom Francesco I - Marquês da Cisplatina do Norte e luparone de aluguel
Respondendo pelo Virreinato del Río de la Plata

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Beto, O Testamenteiro

Apesar do sonho de consumo do turma do marketing ser Renata Campos, o primeiro da lista para ocupar o cargo de vice de Marina Silva, continua sendo Beto Albuquerque. Por vários motivos, o principal deles é ser o guardião e executor do testamento político de Eduardo Campos. O PSB(ou pelo menos seus dirigentes) entendem que Beto é o mais indicado para evitar que Marina Silva se desvie muito das propostas e compromissos de Campos. Usando o linguajar futebolístico, tão próximo e caro aos brasileiros, marcação homem a homem (ou homem a mulher, no caso). Usando um exemplo local, já incorporado ao folclore do futebol gaúcho, Beto seria o Jurandir do PSB. Para quem não conhece a história, Jurandir era um meio-campo, reserva no time do Grêmio, escalado em um Grenal com a difícil tarefa de marcar Paulo Roberto Falcão, na época, 1979, no auge da forma técnica e física. Funcionou, Falcão não conseguiu jogar e o Inter, com um senhor time, que seria o campeão brasileiro daquele ano, ficou no 0 x 0 com o Grêmio. Segundo a lenda Jurandir só desgrudou do Falcão na hora chuveiro, quando este avisou: Jurandir o jogo acabou, vai para o teu vestiário... Assim, o nome de Beto Albuquerque deve ser confirmado nas próximas horas como vice de Marina. Homem de confiança de Eduardo Campos, quando este decidiu concorrer a presidência Beto foi um dos ou o primeiro a ser chamado para construir uma estratégia para tornar Campos conhecido fora de Pernambuco e do Nordeste. Um dos coordenadores da campanha e com prestígio e liderança no PSB, Beto deve ser chamado para "marcar" de perto Marina e garantir que os projetos e propostas de Campos e do PSB, não sejam esquecidos. Resta saber se, com a campanha ao senado começando a apresentar resultados e crescendo nas intenções de votos, Beto irá aceitar a missão. Pelo histórico e o perfil de soldado do partido provavelmente o fará.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Ainda a corrida eleitoral...



Eu pretendia dar uma folga aos meus 6 seguidores e deixar as eleições de lado hoje, escrever sobre viagens, música, literatura. Mas, não dá para deixar de comentar a pesquisa do Datafolha. Então, prezado torcedor, prezado secador (com a permissão de Xico Sá) vamos à corrida.

Escrevi antes (ver post em algum lugar aí embaixo) que a pesquisa era precipitada, e continuo achando. Porém, olhando com o devido distanciamento crítico, e focando apenas nos números, sem qualquer intenção de análise sociológica, cultural ou de analista político, apresenta alguns dados interessantes.

O primeiro parece confirmar a tese que defendo (também está por aqui, é só procurar), de que a corrida, até aqui, pode ser chamada de tudo, menos de instável. Aliás, está aborrecidamente estável. A tartaruga que entrou agora não alterou a posição de ninguém. Já que não tirou voto de ninguém, apenas diminuiu o percentual daqueles que não tinham candidato. Então, não abalou a estabilidade da campanha, mas reduziu ao mínimo uma incerteza, teremos ou não segunda bateria nesta corrida. Afirmei ontem, e volto a afirmar, teremos segundo turno e Marina estará nele. O risco de não termos existe, mas é mínimo. Explico mais adiante.

O primeiro fato, que me surpreendeu em parte, por que nada mais complexo que o comportamento do eleitor, ainda mais nesta gosma (aqui pedindo licença ao Juarez Fonseca pelo uso do termo)  de sistema eleitoral que possuímos, foi o percentual de Marina. Esperava mais. Em abril, na última pesquisa em que aparece como possível candidata, tinha 27% das intenções. Matematicamente falando, e olhando só os números, somando os 27 com os 8% que Eduardo Campos tinha, seriam 35%. É claro que não esperava isso, mas com toda a comoção e etc, esperava algo mais perto dos 27. 

Considerando-se que os 21% atuais sejam todos dela, teria perdido algo como 16% das intenções de voto de abril para cá, dos quais recuperou 10% da turma dos indecisos, brancos e nulos e 6% continuam lá ou migraram para algum lugar. Se colocarmos na equação os 8% de Eduardo Campos temos duas opções: ela perdeu 24% , ficando com 3%, que somados aos 10% recuperados, mais os 8 de Campos, somam 21, ou perdeu 20%, ficando com 7 +10 recuperados, e os 8% de Campos seriam, na realidade, 4% de quem votaria nele apesar da Marina e 4% de quem votaria nele pela presença dela na chapa ou independente dela estar ou não na chapa. Os números e combinações podem variar ou não significar nada.

Como eu disse, nada mais instável (aqui cabe o termo) do que o comportamento de boa parte do eleitorado. Mas, os dados permitem um palpite ou uma suposição de que ao optar pelo pragmatismo e aceitar ser vice de Eduardo Campos, Marina pode ter perdido alguma bagagem pelo caminho. Ou o sentimento do eleitorado em abril, de que ela seria diferente, em ideias e ações, dos político que andam por aí, tenha diminuído com este pragmatismo, parte dele continua sem candidato. Veremos quando começar o horário eleitoral. 

Por último, explicando o tal risco mínimo de não haver segundo turno, a entrada de um novo corredor não causou o estrago esperado. O percentual de votos de Dilma continua inalterado (consolidado?) e ela precisa conquistar o mesmo número de votos para vencer no primeiro turno do que precisava há três meses. O risco é mínimo, por que Aécio e Marina só precisam manter o que já tem hoje para haver segundo turno. 

Ou seja, a corrida continua modorrenta, mas há uma pequena luz no fim do túnel, de que o horário eleitoral acabe com o marasmo.


domingo, 17 de agosto de 2014

Constatações de um domingo...




1. Marina já está no segundo turno. Resta saber quem a acompanhará.

2. A campanha promete iniciar com cada um dos candidatos tentando colar sua imagem à Eduardo Campos. Lamento. Essa prerrogativa é de Marina e só dela.

3. Cada ator do jogo político que agora inicia, tentará, primeiro, usar a nova personagem para derrubar o seu, até aqui, principal adversário. No segundo momento, ambos tentarão sangrá-la até a morte. A peça inicia como comédia de costumes, com muita intriga e sedução e termina como um drama sanguinário.

4. Nos bastidores, da mesma forma. Produtores e patrocinadores acharão que estão realizando uma experiência controlada, apoiando e incentivando a nova personagem, pensando que poderão cortá-la do roteiro no segundo turno, deixando o caminho livre para o(a) seu(ua) protégée. Sonhar não é proibido. (Não esquecendo que alguns, por garantia, tem mais de um protégée).

5. Neste baile, o que menos se discutirá, serão os problemas e as possíveis soluções.

Conclusão disso tudo? Só duas certezas: Marina estará no segundo turno, repito. E quem mais ganha com tudo isso é o PMDB. Quem quer que suba a rampa do Planalto em janeiro, estarão na porta para recebê-lo(a) e mostrar as dependências.

sábado, 16 de agosto de 2014

Três mineradores entram numa mina...

Sábado de chuva, bom para jogos de tabuleiro, charadas e adivinhações. Então, hoje vai uma história. A frase do título é o início de um tipo de piada conhecido e popular em muitos lugares e línguas. O que segue não é piada, mas não deixa de ter certo humor.

Três mineradores entram em uma mina. No último túnel, da última galeria. Um inesperado desabamento os prende num exíguo espaço no fundo do túnel. Peter, Paul e Jack, digamos que sejam seus nomes, depois do desespero inicial buscam uma solução. Só  para constar, Peter odeia Paul e odeia Jack. Paul odeia Peter e odeia Jack. Jack odeia os dois. Depois de muito debate, uma certeza: o oxigênio vai acabar antes do resgate chegar. Alguém lembra que, como é o último túnel, o mais profundo, há um ponto numa das paredes em que apenas alguns metros os separam do exterior. Se trabalharem rápido e em conjunto acharão uma saída.

Decidem descansar um pouco antes de iniciar a cavar. Jack adormece e Peter e Paul confabulam: Eis uma boa oportunidade de nos livrarmos dessa mala, diz um. Uma pancada na cabeça, culpa do desabamento, não resistiu, não pudemos fazer nada. É, completa o outro. Sem falar que duas pessoas consomem menos oxigênio.

Três dias depois, quando a equipe de resgate conseguiu abrir uma passagem até o túnel, encontrou três corpos. Jack no chão com um ferimento na cabeça. Peter encostado na parede, segurando uma picareta e encarando Paul encostado na parede oposta, segurando uma picareta e em eterna vigilância sobre Peter.
Nenhum dos dois se sentiu confortável em cavar, tendo que dar as costas ao outro...

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Seriedade, Seriedade abre as asas sobre nós...

Profanei os belos versos de Niltinho Tristeza, Preto Jóia, Vicentinho e Jurandir (desculpa, aí pessoal. Licença Comunidade da Imperatriz) para retomar a discussão sobre nossa tendência a relativizar o valor da seriedade (ou de qualquer outro: honestidade, ética, cidadania, compromisso, etc), tema do post de ontem. E este comportamento parece estar em todos os setores da sociedade. Se ontem falávamos especificamente da político e do esporte, hoje falamos de como ele aparece, intencional ou fruto de decisões apressadas em outros setores.

A decisão do Datafolha de realizar uma pesquisa 24 horas depois da morte de Eduardo Campos me parece precipitada. Não por questões morais ou humanitárias, embora concorde que não deveriam ser desprezadas, mas por questões técnicas e metodológicas. Até onde lembro, Platão dizia que opinião é fruto da reflexão. Você pensa, argumenta, contrapõe, compara, pesa e chega a uma opinião. 

Aferir opinião em um momento de alto grau de emoção e com as manchetes praticamente implorando: Por favor, Marina, (o que seria óbvio e natural, se a questão não fosse mais complexa do que parece, leia o post de ontem) me parece que existe uma grande chance de o resultado apresentar alguma discrepância com a realidade logo ali na frente. A opinião será a mesma após a comoção diminuir? Não estou defendendo nenhuma teoria da conspiração, até porque acredito que a mídia tem, pode e, até, deve ter suas posições, preferências e interesses. Apenas defendo que isso seja feito de forma clara e transparente.

Então, o que sobressai, mais uma vez, é o pouco caso com a seriedade, numa tentativa de mostrar agilidade, capacidade técnica, sair na frente da concorrência, ou de influenciar no processo (um direito da empresa e seus dirigentes, desde que, repito, seja claro e transparente) apimentando um pouco a disputa. Aliás, a palavra instável surgiu na quarta-feira para definir a campanha eleitoral. Eu ando muito distraído, mas após trocentas pesquisas em que os candidatos parecem não sair do lugar, o máximo que eu consigo é um indefinida. Sempre há a possibilidade de, nos meus parcos conhecimentos da língua portuguesa, desconhecer que ambas são sinônimos. (Sendo didático, instável significa que pode mudar a qualquer momento. Indefinida significa que, embora não haja indícios significativos de mudança, não se pode afirmar que a situação está definida. Sutil, mas diferente.)

O desejo de mudanças é grande em todos os setores da sociedade. Mas, esta tendência a relativizar a seriedade das coisas, que pode não ser percebida, mas é muitas vezes intuída, pode explicar os altos percentuais de brancos, nulos e indecisos. A percepção de que as alternativas apresentadas para a mudança e seus agentes, agem e pensam de forma muito parecida com o já existente. De que a reforma acabe se restringindo a mudar a cor das paredes.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Eduardo Campos e a Sul-Americana



O endereço do blog existe há bastante tempo. Outras prioridades sempre adiaram sua estreia. Lamento iniciar este espaço tendo como mote a morte de alguém. Ainda mais alguém ainda jovem, com um futuro aberto à frente e que poderia fazer a diferença para ao sua comunidade, o seu país. Não vou entrar no mérito de se faria ou não esta diferença, a morte, muitas vezes, distorce as perspectivas. O que quero debater aqui é que os desdobramentos da morte de Eduardo Campos escancaram mais uma vez a falência dos nossos sistemas: político, social, moral.
Não estou me referindo, exclusivamente, às manifestações incivilizadas das redes sociais. Mas, principalmente a algumas análises na mídia tradicional, e manifestações no meio político, que deixam entrever sinais de uma forma de pensar que parece estar se transformando no senso comum entre nós.
Parece haver um consenso de que Marina Silva deva ser a substituta de Eduardo Campos, até aqui nada mais lógico e natural, como adepto de eu os fatos devem ser analisados desapaixonadamente, até entendo que se parta para esta discussão menos de 24 horas após a queda do avião. Afinal, a vida continua, a eleição está ali na esquina. O que me incomoda é que parece haver um consenso de que ela e o PSB devem aproveitar oportunidade e surfar na onda da comoção, usando o corpo de Campos como prancha, sem pensar, nem discutir muito. (Desculpem a insensibilidade da figura de linguagem). Mais do que isso, nas entrelinhas, ou mesmo explicitamente, críticas a qualquer prurido moral ou ético por parte da candidata.
Acredito que a discussão é mais complexa do que aparenta, e elenco, a seguir, algumas considerações que me fazem ficar preocupado com a generalização daquele tal pensamento, mencionado acima, e por que a morte de Campos escancara a falência do sistema.

  1. A simplificação e o reducionismo que colocam o eleitor indeciso ou do voto branco ou nulo automaticamente como eleitor de Marina. Como se ela fizesse apenas figuração na chapa do PSB, ou como um indivíduo desprovido de qualquer vontade, ideia ou pensamento próprio, sendo carregado pela emoção e comoção pública. (embora com os muitos estudos sobre o comportamento das massas, não se possa dizer que esta última ideia esteja de todo errada). 
  2. Marina Silva aceitará a missão e adiará o projeto da Rede para governar segundo o projeto do PSB, dará as costas ao partido que a ajudou a se eleger e criará a Rede mesmo assim, ou governará tendo o próprio partido como oposição. 
  3. A morte de Campos escancara, mais uma vez, a falta de lógica, convicção, ética, moralidade e bom senso que regem as coligações partidárias no Brasil. O PSB, que desembarcou do governo, por que queria deixar de ser coadjuvante e apresentar o seu projeto ao país, terá que optar se escolhe Marina para chegar ao poder, mesmo correndo o risco de ao chegar lá ela retome o projeto da Rede e o PSB volte a ser coadjuvante, com um eventual bom governo de Marina adiando ainda mais os planos, ou um eventual mau governo sepultando estes planos. Ou escolhe um nome com menores possibilidades de vitória, preservando o plano original para à próxima eleição? Resumindo disputa a Copa do Brasil ou escolhe a Sul-Americana? 
Eis que surge o tal pensamento e explicamos o que raios a Sul-Americana veio fazer num texto sobre a morte de Eduardo Campos. Pois o tal pensamento foi verbalizado pelo diretor de futebol do Sport Club Internacional ao justificar a tese: “Na Sul-Americana sim, o Internacional entrará com toda a seriedade.” Pois esse é o pensamento que, assustadoramente, parece se tornar o pensamento médio ou o padrão da nossa sociedade. A ideia de que se pode relativizar a seriedade com que se lida com a coisa pública. 
Sim, o Inter é uma entidade de direito privado, mas não deixa de ser público (seus torcedores e sócios) cobrar impostos (mensalidade) e deveria entregar uma gestão e um serviço de qualidade, seriedade e comprometimento. Seus dirigentes, assim como qualquer gestor público deveriam saber que não dá para ligar ou desligar a seriedade de acordo com as suas conveniências. A seriedade tem que estar sempre presente, desde o momento em que acomodam suas bundas gordas nas macias almofadas de couro vermelho (ou da que cor seja) de suas cadeiras. 
Este é o pensamento que talvez explique os 7 x 1, os mensalões e outras mazelas que assolam este país. Só nos resta dar os parabéns aos desqualificados que (des)classificaram o Inter para a sul-americana, desejar boa sorte e bom senso ao PSB e Marina Silva nas decisões que precisam tomar e lamentar a morte de Eduardo Campos e, possivelmente, de uma oportunidade de mudanças.