segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Bom senso? Não, obrigado....


Pois, não é que a Caixa Federal está com uma ação publicitária para financiamento da compra de automóveis, cujo mote é: Carona? Não, obrigado..?
Quando todo mundo reclama dos engarrafamentos, da poluição, mobilidade e sustentabilidade são os temas da vez, a Caixa resolve tripudiar com a saudável prática de compartilhar um veículo, diminuindo poluição, congestionamentos e reduzindo o gasto energético?
Tudo bem, é coerente com um país em que bicicletas tem uma carga tributária, proporcionalmente, maior que a dos automóveis. Onde o governo adora reduzir o IPI para automóveis. Onde não existe uma política para o transporte público.
Quando diversas pesquisas nos Estados Unidos e Europa apontam uma queda no número de jovens com carteira de motorista e um aumento no número de jovens que usam bicicletas e transporte público para seus deslocamentos, não era hora de mudar o foco? 
Que tal financiar a compra de bicicletas, que andam bem caras, diga-se de passagem. Isso sim, seria uma inovação. Uma revolução.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Meu caro David...

Ou talvez o título devesse ser Tucanaram o preconceito. De qualquer forma, quero crer que o teu texto sobre os desdobramentos do casamento gay no CTG da Livramento é uma peça de elevada e fina ironia, que o meu limitado intelecto não alcançou. Entendi mal ou recriminas as moças por desejarem casar num CTG e "afrontarem" uma anciente tradição? Não entendi de todo, ou justificas o preconceito e a selvageria em nome desta mesma tradição?
Devo entender, então, que tradições estão acima dos costumes, dos arranjos sociais, das leis? Não seriam dogmas, por acaso? 
Você esclarece que não curte CTG, bombacha e etc, e, assim, deveria ser normal impedir que as moças escolham o local, mesmo que gostem e cultivem as tais tradições? Não lhes é permitido cultuar e exercitar as tais tradições pela condição de lésbicas? Isso está na regra, nos estatutos, na lei?
Não vou discutir o mérito. Para efeitos de argumentação, digamos que as pessoas tem o direito de ser racistas ou preconceituosas ou ambos. Então, isso tem que ser às claras! O MTG tem que colocar em seus estatutos que as tradições são reserva exclusiva de brancos, heterossexuais e, preferencialmente, do sexo masculino. Os CTGs devem colocar na porta o aviso: Não se permitem negros e homossexuais. Mulheres apenas em dia de fandango ou para lavar a louça do carreteiro!
Podemos aproveitar e alterar a constituição, resgatando algumas tradições como a escravidão e a proibição do voto às mulheres, por exemplo. Deixar tudo preto no branco. Desavenças serão resolvidas pelo sistema jurídico e legal. 
Andas aí pelos States. Deves saber que a Ku Klux Klan ainda existe. Seus atualmente 8.000 abnegados sócios podem continuar se reunindo, desfilando, se manifestando, desde que respeitem as leis anti-racismo e os avanços da sociedade americana, que por sua vez garante seu direito de se reunir e manifestar. É se algum negro quiser se associar a KKK, certamente será o sistema legal americano que decidirá a questão.
Tira os olhos do deslumbrante skyline de Nova York e presta atenção na vida ao redor. Abraço. 

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

El gaucho insufrible...

O gaúcho insuportável é o título de um conto, que dá título a um livro, de Roberto Bolaños, renomado escritor argentino. Em linha gerais, conta a história da perplexidade e desconforto, insuportável, de um gaucho que se dá conta de que a pampa não mais existe, que busca reviver uma cultura esquecida nas prateleiras da literatura gauchesca.
É uma analogia um tanto quanto forçada, mas, penso, se aplica no caso do CTG incendiado em Santana do Livramento. Quero afirmar aqui uma posição intermediária entre os que incendiaram parte do CTG, supostamente em defesa de certos valores e os que, em defesa de certos valores, querem incendiar o restante do galpão e todo e qualquer CTG. 
Entendo que o caso atual tem similaridades com o caso que envolveu a torcida e a instituição Grêmio. Repetem-se os posicionamentos. Para alguns os atos são fruto de indivíduos desprovidos de qualquer humanidade. Para outros, fruto de uma sociedade corrompida. Acredito que é mais complexo do que isso, embora envolva elementos dos dois. Há gente má, por que é má e há sociedades que são corrompidas em seus valores. No entanto, há um terceiro elemento, que me parece essencial. O fato de os que deveriam liderar, estarem tão perplexos e despreparados para enfrentar uma nova realidade, quanto os seus liderados.
Assim como as direções do Grêmio não souberam ou não quiseram enfrentar o problema, o MTG, que anda "mais quieto do que guri cagado" com esta situação toda, não cumpriu seu papel. Não tirou o tradicionalismo da prateleira, não debateu as mudanças da sociedade, não se posicionou, não defendeu suas bandeiras. Esse é o ponto. Não só no âmbito dos CTGs, mas de todo a sociedade. No público todo mundo é progressista, humanista e qualquer outro ista que esteja na moda. No privado florescem os preconceitos, a intolerância, a covardia. 
Se o MTG tivesse comprado a briga, debatido a questão e chegado um consenso, as coisas não chegariam a este ponto. Ou como diria Arnaldo César Coelho, se a regra fosse clara, os conflitos seriam menores. Bastava uma posição: não, não permitimos homossexuais ou, sim permitimos, e quem não concordar que crie outra corrente tradicionalista, ponto. Simples assim. Esse medo em assumir posições e compromissos é que transformou uma cultura de valentes em seu oposto, uma cultura de covardes.
Isso explica porque quem atacou o CTG não chegou pela frente, portando sua bandeira, suas cores, defendendo seus valores, mas agiu na calada da noite, como maulas que são. Quem tem certeza das suas razões vem para a briga frente à frente, não dá o tapa e esconde a mão.

Por um projeto de Nação...

Troca-se voto qualificado por um projeto de Nação, mesmo usado. Este seria o meu anúncio nos classificados eleitorais, edição 2014.

As últimas pesquisas sinalizam o que já prevíamos aqui. A briga entre Dilma e Marina, secundada pelo cadáver insepulto de Aécio e o moribundo PSDB. A novidade é que, além do pouco promissor e pouco saudável desequilíbrio, com a balança pendendo para um lado só e as escolhas tendendo a se tornar optar por variações de um mesmo tema, outro temor se avizinha.

O anúncio da substituição de Guido Mantega, em um eventual segundo governo Dilma, e a confirmação de André Lara Resende e Eduardo Gianetti como pensadores econômicos de Marina Silva, esclarecem o porque do debate sobre quem seria o(a) melhor gerente para o Brasil. O indicativo é de que iremos mais longe, não apenas a escolha se limitará ao tom na palheta de cores, mas se tornará irrelevante. Não importará mais quem escolheremos para nos governar, já que ele não terá mais essa função, mas apenas a de gerenciar os interesses dos grandes investidores e da cartilha econômica global.

Mais do que discutir qual o candidato menos pior para o país, é hora de discutirmos que Nação queremos ser. Ou abriremos mão de ser cidadãos, e seremos assistentes e subalternos do gerente de plantão?



A reforma política pode ser um começo de mudança:
www.avaaz.org/po/petition/Ao_Congresso_Nacional_Brasileiro_A_Reforma_Politica_ja/?nvEHifb

domingo, 7 de setembro de 2014

20 anos...


20 anos costurados com retalhos de amor, cumplicidade, respeito e admiração (e rotinas, algumas rusgas e rugas, debates e alianças).
20 anos completados em teus braços, com a calma da serena tempestade.
20 anos de príncipe, encantado pela Pequena de ojos de la luna!
20 tangos de Gardel e Manzi guardados na memória.
20 anos contando os lunares em tuas costas.
20 anos decifrando teus mistérios.
20 anos aprendendo os segredos da felicidade.
20 anos encontrando a esperança e a força em teu sorriso.
20 anos descobrindo o sentido e o significado do amor.

Não me perguntem a fórmula, o segredo. Nem eu sei. Apenas acordo em cada manhã, olho para o lado e me surge um sorriso terno, me assalta o sentimento suave e aconchegante da certeza de estar no lugar certo, com a pessoa certa.




A longa viagem do rabo do cachorro....

Parte do título tem inspiração no livro A Longa Viagem da Biblioteca dos Reis, da Historiadora Lilian Schwarcz, que conta, a partir dos eventos da transferência da Real Biblioteca de Portugal para o Brasil, acompanhando a Família Real em sua fuga de Napoleão, fatos fundamentais da história brasileira. Recomendo a leitura. Me apropriei de parte do título porque ilustra, de certa forma, os eventos atuais e a dificuldade do país, da sociedade, em empreender a longa viagem de volta, da colônia para a metrópole, da barbárie para a civilização.

Para não me alongar muito, fiquemos no episódio de racismo envolvendo a torcida do Grêmio. Muitos entendem como exagerada e até mesmo injusta a punição aplicada ao Grêmio e, também muitos, contestam a própria definição do ato como racismo. Os argumentos são os mais variados. Vão desde um singelo sempre foi assim nos estádios, defendendo um status quo alérgico a qualquer mudança ou tentativa de se atingir uma menor desigualdade; até teses mirabolantes e indignadas por alguém que ganha, provavelmente, mais de 100 mil reais por mês, ter a ousadia de protestar e tirar a alegria do "povo" humilde que frequenta os estádios.

Embora o esporte em geral, e o futebol em particular, apresentem grandes semelhanças com o sistema escravocrata (onde mais pessoas são vendidas, compradas e trocadas?) e antes que você proteste dizendo que eles ganham muito bem por isso, devo dizer que tem muita gente que também ganha, e até mais, sem contribuir em nada (sim, você vai dizer que eles ganham roupa, comida, instrumentos de trabalho e um lugarzinho na senzala, ops, alojamento, embaixo das arquibancadas) simplesmente explorando o talento e o trabalho alheio. Sem falar no novo nome dos estádios: Arenas, onde, também, escravos eram usados para divertir a população.

Mas, voltando ao parágrafo anterior, ganhar 100 mil mensais não implica (pelo menos eu acho, não li o contrato do goleiro Aranha) em aceitar, mansamente, ter sua dignidade achincalhada. E quanto ao "povo", este foi expulso dos estádios muito antes de virarem arenas, com o fim das "coréias" e com o preço dos ingressos "populares" nas alturas ou significando ficar em guetos, na pior parte do estádio.
Além dessas, temos também a tese do racismo inconsciente ou superficial, onde tudo é uma brincadeira ou apenas uma jocosa e inocente manifestação de carinho.

Assim vai a nau brasileira em sua longa viagem em busca da civilização, da modernidade.

O que raios o rabo do pobre do cachorro tem a ver com isso? É que, como o cão que persegue o próprio rabo, a nau brasileira se desloca em círculos, a cada avanço de alguns metros, corresponde um retrocesso de outros vários metros. Talvez quilômetros. 

Senhores passageiros, aproveitem a brisa marinha, estiquem as pernas no convés, ainda temos uma longa viagem pela frente!

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Um bilhete para Rose...

Olá, Rose!

Antes de mais nada, deixe-me dizer que você é uma garotinha de sorte! Não apenas por nascer em uma família de posses, como diriam os mais antigos, mas também por ser beneficiada pelos genes da mamãe. Ok, isso pode gerar alguns problemas em comparações futuras, mas, sem dúvida, ter Scarlett Johansson como mãe, facilita as coisas no quesito boa aparência.
Abrindo um parêntese aqui, e só entre nós, não acho sua mãe uma deusa de beleza, uma diva do cinema, na acepção tradicional do termo, nem um super estrela. É uma boa atriz, com uma atuação ao mesmo tempo marcante e discreta ou marcante por ser discreta. Assim como sua beleza, suave e tranqüila, que a mantém num nível humano. Enfim, sua mamãe parece ser, no mundo real, o que chamamos por aqui de boa gente.
Mas, o motivo do bilhete é que estava preocupado que ela perdesse essa simplicidade ao escolher seu nome. Num meio cheio de Harper Seven, Rummer, Knox Leon, Apple, foi um alívio saber que ela escolheu um singelo Rose! É que, por aqui, as discussões andam tão complexas, tão rançosas, tão cansativas, que ser lembrado de que ainda existem coisas simples, suaves e doces, mas ao mesmo tempo fortes e mesmo marcantes como seu nome, é refrescante, revigorante, estimulante.
Espero que assim como sua mãe manteve a mesma família e escala de cores ao escolher seu nome, você vibre na mesma sintonia e harmonia do jeitão gente boa, dela.
Seja bem-vinda, Rose! Este mundo complicado e confuso anda precisando de um pouco de simplicidade e suavidade. Desculpe te alugar, você ainda nem se acomodou neste novo mundo, é que andei lembrando de um cara, genial na sua também simplicidade, e resolvi, como ele, queixar-me a uma rosa, embora, como as dele, ainda não fale.

Grêmio e Aécio os pedestres distraídos...

Não é muito estimulante, nem prazeroso, ficar exercitando variações sobre um mesmo tema, ainda mais quando o tema é chato, monótono e repetitivo. A exclusão do Grêmio da Copa do Brasil e de Aécio Neves da Copa pelo Brasil, apenas confirmam o que já debatemos aqui, alguma vezes.

Respeito todas as opiniões e posições contrárias, mas a punição ao Grêmio era previsível e é justa. Quando o comportamento inadequado, violento, ofensivo, se repete com frequência e com origem conhecida e identificada, qualquer instituição séria, seja o Country Club ou o Clube de Pif-Paf do Bar do Zé, precisa agir antes que seja tarde. A instituição é, sim, responsável por orientar o comportamento de seus membros, fiscalizar e coibir os excessos. O Grêmio foi vítima de sua própria inércia, no mínimo, embora haja indícios de que colaborou ativamente, criando o monstro que agora o devora.

O Grêmio estava tão preocupado e distraído com suas politicagens internas, que não notou que os tempos mudaram. As pessoas que antes não reclamavam, porque não tinham amparo, hoje se sentem seguras e apoiadas para defender sua dignidade. O que antes eram "ofensas próprias de estádio" hoje são condutas criminosas. Também o frágil discurso de que ninguém foi punido antes pelo mesmo comportamento, não se aplica. O Grêmio foi o primeiro, nestes novos tempos, a se descuidar e deixar a bunda na janela. Daqui para a frente sim, se para os mesmos fatos a punição for diferente, cabe reclamação. Ao Grêmio cabe aproveitar o momento para higienizar, modernizar, trazer para os novos tempos, torcida, Conselho e administração.

O mesmo raciocínio vale para Aécio e o PSDB. Também não notaram os novos tempos. Apostaram na inércia, no discurso anticorrupção e na vaga lembrança do governo FHC. Não trouxeram propostas claras, objetivas, de uma alternativa ao que existe, mantendo ganhos e conquistas. O acaso, esse diabinho brincalhão, deu um jeito de embaralhar as coisas. O eleitor parece ter identificado em Marina uma possibilidade de correção de curso. Apesar do discurso do "Novo", o eleitor parece ver nela a continuidade, sem os males, e os malas, do PT. A mesma política, sem a corrupção, mantendo avanços e retornando para um caminho mais próximo das promessas do primeiro governo de Lula.

Simplificação, pensamento mágico, despolitização, falta de cultura política e cidadã? Veremos logo ali na frente, confirmando-se a vitória do PSB e Marina. De qualquer forma, não parece muito saudável, e equilibrado, o país ficar pendendo para um lado só. Se o PSDB aderir a Marina e não se reinventar, corre o risco de se tornar mais um partido satélite do governo de ocasião. Um partido periférico, como o PDT, o PMDB, e outros, se tornaram nos últimos anos. No reino animal é conhecido como comensalismo. A relação entre a rêmora e o tubarão, por exemplo.

Ao que tudo indica o Brasil parece estar optando por decidir entre o Marxismo pragmático-populista e o Socialismo messiânico-populista. O que isso significa, e no que resultará, é tão indecifrável como o real pensamento de Marina.

Enfim, como o pedestre distraído, Grêmio e Aécio foram atropelados pelo ônibus linha Realidade - Via Novos Tempos - Terminal Futuro.


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Cuidado ao colocar o polegar para cima....

Os impactos e reflexos das redes sociais no dia a dia das pessoas comuns ainda é um área de estudos incipiente. Há pesquisas em todos os campos e para todos os gostos. A mais recente, uma parceria da Pontifícia Universidade Católica do Chile e da Universidade de Boston, aponta indícios de que casais que usam o Facebook com frequência tem maior probabilidade de divórcio.

Não é difícil imaginar os aborrecimentos causados por quem interage mais com os "amigos" do "feici" do que com o parceiro ao lado. Ou as crises, nos casos mais patológicos, causadas pelo uso descuidado da mãozinha azul. "Por que você curtiu o post daquele babaca e ignorou o meu? Por que você comentou na foto daquela baranga e nem notou o meu novo corte de cabelo?" e coisas do gênero. 

Não que eu não respeite a ciência, mas acredito que fatores externos geralmente são gatilhos numa relação que já tem problemas ou já nasceu errada. Costumamos agir em relação à ciência do mesmo modo que criticamos nos muito religiosos. Com uma fé cega na infalibilidade. A crença de que, assim como os padres, pastores e afins, cientistas não erram, não interpretam mal, não manipulam, não distorcem. 

Assim como na medicina,  e em tudo nessa vida, ouvir uma segunda opinião é sempre recomendável e saudável. Em todo caso, em todas as ocasiões, pense bem antes de usar a mãozinha azul com o polegar para cima.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Dois meninos no trem Minuano...

Dois garotos no trem Minuano, cruzando campos e coxilhas, vão sonhando com soldadinhos de chumbo, carrinhos de lata. Banho de sanga, frutas no pé, tirar leite da vaca. O borrão verde-castanho, que passa ligeiro pela janela, lembra o olhar fugidio da morena de tranças da escola primária.

Um vem de Porto Alegre para visitar os tios, o outro de Passo Fundo para ver os bisavós. Na velha linha Santa Maria - Marcelino Ramos, por Cruz Alta e Passo Fundo, do saudoso Minuano, a pequena São Miguel é o destino comum. Terão eles se cruzado na plataforma da estação em um dia desses qualquer, trocado olhares cúmplices, reconhecendo-se como iguais, aventureiros da ferrovia no norte, desbravadores das campinas do planalto, domadores do gado selvagem que escapou dos campos da Vacaria?

Teriam eles se encantado com o pequeno show do chefe da estação, com seu arco de vime estendido, com as informações de controle, para ser apanhado pelo braço ágil do maquinista? Com a sinfonia de sino e apito que marcava chegadas e saídas? Teriam trocado ideias, jogado bola, girado pião, brincado de pique-esconde no pátio da estação? Quem sabe?

Os dois meninos no trem Minuano, hoje são homens que dividem lembranças de uma mesma época, de um mesmo lugar, talvez sem nunca terem se encontrado. Mas compartilham emoções, sentimentos e memórias. Pedro e Sérgio, os dois meninos no Minuano.

Pedro é meu tio, que (d)escreveu aqui suas saudades/memórias/sentimentos em versos que lembraram o Minuano, São Miguel e tantas coisas. Sérgio, o amigo de uma amiga, leu os versos e reviveu suas próprias saudades/memórias/sentimentos. Novamente, o velho trem Minuano cumpriu seu papel, e os transportou à São Miguel de suas infâncias. Mesmo que nunca tenham se encontrado, dividiram mais uma vez um encantamento, uma alegria, tão fáceis e presentes quando somos crianças, que parecem perdidos quando adultos, mas que estão apenas adormecidos, prontos para despertar ao apito de um trem, um perfume de bolo saído do forno ou a leitura de palavras escritas com o coração.

Não há mais trem Minuano. Mas, enquanto houver palavras para descrever sentimentos, homens com espírito livre e coração puro para escrevê-las e homens com espírito livre e coração puro para as ler e sentir, a passagem por este mundo ainda valerá a pena.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Racismo diet...

 O comercial fake do grupo americano College Humour, embora criado pensando no momento americano dos confrontos em Fergunson, pode muito bem ser utilizado para explicar o nosso modo de pensar e agir frente a questões como esta. "Ele tem o mesmo sabor do ‘Racismo’ tradicional, mas sem qualquer traço de culpa ou autoconsciência. O refrigerante para quem jura que não é racista, mas praticamente transpira racismo em tudo que faz ou diz". Veja o comercial aqui: 


As reações após o episódio das manifestações racistas na Arena do Grêmio seguiram o roteiro tradicional, os que queriam a execução sumária da jovem "torcedora", os que queriam a imolação do goleiro santista "agente provocador" do incidente e a turma do é assim mesmo, ofensas "normais" nas arquibancadas, sem nenhum juízo de valor ou significado.
Esta parece ser a grande dificuldade, o grande entrave para que possamos crescer como país e como nação. Vencer esta incapacidade de discutir nosso valores, nossos conceitos, a busca pura e simples por um consenso, uma "cordialidade", uma unidade, sem o necessário reconhecimento e aceitação das diferenças. 

Nos falta um projeto de nação. Quem somos e quem queremos ser. No que somos iguais e no que somos diferentes. No que concordamos e no que discordamos. E a partir daí construir um projeto comum. Nosso hábito de agir por impulso, sem pesar consequências, ou movidos simplesmente pelo desejo de derrotar o outro, é o que nos trouxe até aqui, com todas as mazelas com que convivemos.

Certamente muitas vozes aumentarão o volume para protestar, demonstrar o quanto não são racistas, provavelmente usando como exemplo o fato de que, até votarão na Marina para presidente. Certamente, também, serão os primeiros a lembrar da cor da pele dela, se as coisas não correrem como o esperado.